Sabemos que para o Mercado Brasileiro é um desafio atender em Projeto e Obra às exigências das Certificações como LEED no quesito Eficiência Energética e geralmente as empresas focam em apenas atender os itens obrigatórios para obtenção do nível de Certificação pretendido, porém sabemos que é preciso mudar a consciência das empresas para além do “mandatório” definido pelo LEED e utilizar as diversas possibilidades de soluções mais eficientes energeticamente se realmente temos o objetivo de mitigar e impedir o agravamento da crise energética, que é um problema cada vez maior para a humanidade.
Este artigo tem como objetivo comparar as estratégias de eficiência energética utilizadas atualmente no mercado brasileiro para atender os critérios e requisitos da Certificação LEED para Core and Shell x as possibilidades e principais estratégias que já são uma realidade nos modelos de edifícios corporativos de alta performance pelo mundo.
O que é o LEED e qual a sua importância?
Brevemente o LEED (leadership in energy and environment design) é um sistema americano de certificação ambiental, consolidado e mundialmente reconhecido, que incentiva a adoção de práticas sustentáveis para edifícios verdes e energeticamente eficientes orientando os interessados desde o design até a execução e operação. A vantagem da Certificação é o aumento do valor do Edifício como Empreendimento com reflexo na diminuição das taxas de vacância e aumento do valor de aluguel e qualidade dos usuários e empresas.
A Eficiência Energética como tema no LEED é tratada na categoria de Energia e Atmosfera (EA) e começa com foco em projeto, reduzindo as necessidades globais de energia, tais como design e orientação na escolha de materiais da construção e tipo de envoltória, bem como a escolha dos sistemas adequados ao clima com requisitos mínimos como:
- EAp1: Comissionamento Fundamental e Verificação dos sistemas instalados no empreendimento tais como climatização, iluminação, hidráulico, incêndio, elétrico e demais sistemas a julgar necessário pelo cliente;
- EAp2: Desempenho mínimo de Energia que deverão obrigatoriamente apresentar um percentual de 2% de redução no consumo de energia se comparado a uma edificação padrão, similar ao Empreendimento.
São avaliados os itens classificados como mandatórios dos sistemas da Envoltória da Edificação, Ar condicionado, Aquecimento de água, Elétrica, Iluminação e Motores elétricos, da ASHRAE 90.1-2010.
- EAp3: Medição de energia do Edifício através de medidores individuais ou submedidores que possam fornecer dados de energia do edifício (eletricidade, gás natural, água refrigerada, vapor, combustível óleo, propano, etc.). Podem ser utilizados medidores da concessionária. O empreendedor deve comprometer-se a compartilhar com o USGBC os dados de consumo de energia e dados de demanda elétrica por um período de cinco anos a partir da data em que o projeto obter a certificação LEED ou conseguir chegar a ocupação típica, o que acontecer primeiro.
Estratégias para o aumento da eficiência energética (além do LEED)
Os edifícios energeticamente eficientes podem ser definidos por edifícios que são projetados para oferecer um ambiente com mínimo consumo e desperdício de energia dessa forma maximizando o uso e possibilitando a conservação. Os edifícios comerciais somam quase 40% do total de consumo de energia mundial e, portanto, têm um papel fundamental no consumo. Internamente os dados dos edifícios comerciais mostram que o consumo de energia aumenta conforme a área de carpete/piso/m2. Isso explica por que o consumo de energia com aquecimento, resfriamento e iluminação é considerado 50% do total de energia consumida do edifício. Focar em estratégias para o aumento da eficiência energética nos Edifícios corporativos traz benefícios para os negócios e para a comunidade
1. Arquitetura Passiva e Bioclimática: uso da Iluminação e Ventilação Naturais
A arquitetura bioclimática é aquela que incorpora estratégias e recursos que permitem aproveitarmos as condições favoráveis específicas do clima e local, oferecendo proteção contra as possíveis condições extremas. Arquitetura que cria melhores condições de conforto interior e minimiza o consumo energético do edifício como um todo, diferenciando-a das abordagens mais convencionais, onde delega-se o controle das condições de conforto à sistemas mecânicos de condicionamento de ar, de aquecimento e arrefecimento. A arquitetura bioclimática está baseada em uma busca contínua por otimizar recursos, principalmente através de suas formas e volumes, orientações de fachadas e aberturas, materiais naturais e locais, uso do espaço, e outras tantas variáveis.
A Arquitetura atual precisa incorporar no seu conceito as análises bioclimáticas e soluções passivas desde a concepção do Projeto minimizando os impactos ambientais e, ao mesmo tempo, otimizando a salubridade interior, controlando os níveis de CO2 além de proporcionar melhores condições de iluminação e de conforto térmico.
2. Eficiência Energética x Envoltória das Edificações Ex. Selo Procel Edifica
A envoltória protege o interior da edificação, reduz gastos com energia e evita edifícios ineficientes são quentes no verão e frios no inverno. Dada a extensão territorial do Brasil, com diferentes realidades climáticas, estratégias distintas devem ser analisadas.
E é essa consciência que falta nos Projeto atualmente. Nesse caso podemos nos basear, além do LEED, também nos princípios do PROCEL Edifica onde a análise da envoltória inclui alguns pontos importantes no que diz respeito a envoltória do edifício:
- Transmitância da cobertura e de paredes – É a taxa de transmissão de calor através das paredes provocada pela diferença de temperatura entre os ambientes.
- Cores e absortância de superfícies – Absortância é a radiação absorvida por uma superfície dividida pela radiação incidente sobre ela. Cores mais claras iluminarão os ambientes e absorverão menos calor, reduzindo o gasto energético e regulando a temperatura.
- Iluminação Zenital – É a entrada de luz natural nos ambientes a partir de aberturas criadas na cobertura do edifício. Em prédios já construídos, esta opção pode ser relevada, pela dificuldade nas alterações estruturais necessárias.
- Integração de sistema fotovoltaico na Fachada: Tecnologia utilizada para gerar energia elétrica a partir da irradiação dos raios solares.
CASE: Arquitetura de Escritórios RB12 Design by Triptyque, Retrofit_RJ Brasil (Fonte: archdaily)
RB12 tem uma fachada bioclimática composta por um jogo de vidros em zigue-zague que brinca com a refração da luz e é o primeiro edifício comercial no Brasil a usar painéis fotovoltaicos (instalados na fachada lateral).
3. Estratégias de Iluminação e Automação
De dez anos para cá muita coisa mudou em relação à iluminação de ambientes corporativos. A começar pela substituição das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes e, mais recentemente, pelos LEDs. Além desta solução podemos contar com sistemas de automação que controlam a luz em espaços sem muita movimentação aproveitando a dinâmica da luz natural. Analisando os tipos de luminárias, verificando sua eficiência, seus dispositivos de controles de fachos e incluindo o sistema de automação é possível reduzir o consumo de energia em torno de 20%.
4. Automação Predial
Um edifício operado com sistema de automação possui recursos capazes de alcançar altos níveis de eficiência e de sustentabilidade. A automação proporciona um ambiente de maior controle ao edifício. Controle este que fornecerá informações para tomada de decisões e parâmetros que podem ser inseridos nos subsistemas existentes do prédio, de modo a criar um ambiente de melhoria contínua.
5. Fontes de Energia limpas, sustentáveis e renováveis
Especialistas concordam que precisamos fazer a transição para uma economia de energia limpa para evitar os impactos das mudanças climáticas. Economia essa alimentada por eletricidade proveniente de fontes renováveis de emissão zero de carbono, juntamente com edifícios energeticamente eficientes. Para edifícios isso significa eliminar o desperdício de energia e eletrificar o aquecimento de ambientes e de água e outras funções essenciais do edifício que dependem de combustíveis fósseis. Com a demanda por energia sob controle, podemos produzir energia limpa suficiente para reduzir muito as emissões de carbono.
Desenvolvedores de edifícios devem considerar opções em projetos de retrofit ou em seus projetos, tais como: instalar sistemas renováveis no local painéis solares no telhado ou turbinas eólicas e considerar outras opções de aquisição como certificados de energia renovável.
Agora me conta, quantas dessas estratégias acima, além do LEED, você vê incorporadas nos Projetos hoje???
Vivian Ignácio